lunes, 13 de mayo de 2013

REPRESAS CHINAS amenazan oasis ambientales


Barragem ameaça oásis ambiental chinês
 ANDREW JACOBS
DO "NEW YORK TIMES", EM BINGZHONGLUO, CHINA
Desde suas origens como um riacho cristalino que brota de uma geleira no Himalaia tibetano, até seus meandros largos e lamacentos pelas selvas de Mianmar, o rio Nu é um dos mais naturais da Ásia, com seu curso de 2.700 km correndo livremente em direção ao mar de Andaman.
Mas os dias do Nu como um dos últimos rios de curso livre da região estão terminando. O governo chinês surpreendeu ambientalistas este ano ao reavivar planos de construir usinas hidrelétricas em áreas remotas do curso superior do Nu, o centro de um Patrimônio Mundial da Unesco na província de Yunnan, sudoeste da China, que se classifica entre os lugares ecologicamente mais diversificados e frágeis do mundo.
Os críticos dizem que o projeto obrigará a remanejar dezenas de milhares de minorias étnicas nos planaltos de Yunnan e destruirá os campos de desova de dezenas de espécies de peixes ameaçadas. Geólogos advertem que construir barragens em uma região com atividade sísmica poderá ameaçar os que vivem rio abaixo. No mês que vem, a Unesco discutirá se inclui a área em sua lista de lugares ameaçados.
Entre os maiores perdedores poderão estar milhões de agricultores e pescadores do outro lado da fronteira, em Mianmar e na Tailândia, cuja subsistência depende do Salween, como o rio é chamado no Sudeste Asiático. "Estamos falando sobre uma cascata de barragens que vão alterar fundamentalmente os ecossistemas e recursos das comunidades ribeirinhas, que dependem do rio", disse Katy Yan, coordenadora de programa na China da International Rivers, um grupo de defensores da natureza.
Suspenso em 2004 pelo então primeiro-ministro Wen Jiabao e ressuscitado depois de sua aposentadoria em março, o projeto está aumentando as tensões regionais sobre os planos de Pequim de represar ou desviar diversos rios que correm da China para outros países sedentos e desejosos de reforçar o crescimento econômico e reduzir sua dependência do carvão.
Segundo o último plano energético, o governo chinês pretende iniciar a construção de cerca de 36 projetos de hidrelétricas.
A China foi de modo geral apática diante das preocupações de seus vizinhos, como Índia, Cazaquistão, Mianmar, Rússia e Vietnã. Desde 1997 ela se recusou a assinar um tratado de compartilhamento hídrico da ONU. "Lutar por cada gota de água ou morrer" é como o ex-ministro de recursos hídricos da China, Wang Shucheng, descreveu certa vez a política hídrica do país.
Em Bingzhongluo, as pessoas que dão valor à beleza cor de jade do Nu dizem que as quatro barragens propostas em Yunnan e uma em construção no Tibete modificariam de maneira irrevogável o que os guias turísticos chamam de o Grande Cânion do Oriente. Um profundo desfiladeiro com 600 quilômetros de comprimento, forrado de florestas densas, a área abriga aproximadamente a metade das espécies animais da China, muitas delas em perigo.
Dependuradas nos picos alpinos há aldeias envoltas em neblina cujos moradores pertencem às mais de dez tribos indígenas da área, a maioria delas com línguas próprias. "O projeto será bom para o governo local, mas um desastre para os moradores", disse Wan Li, 42, que em 2003 deixou a capital da província, Kunming, para abrir um albergue da juventude aqui. "Eles perderão sua cultura, suas tradições e seu ganha-pão, e ficaremos com um reservatório tranquilo e sem vida."
Os ambientalistas ficaram desanimados com a destruição de vários rios da China. O Ministério de Recursos Hídricos divulgou uma pesquisa em março que diz que 23 mil rios desapareceram e muitos dos rios mais históricos do país estão poluídos. "Por que a China não pode ter apenas um rio que não seja destruído pelas pessoas?", perguntou Wang Yongchen, um ambientalista de Pequim que visitou a área dezenas de vezes.
Alguns especialistas dizem que a China tem pouca opção além de avançar com as barragens no Nu, diante das necessidades vorazes de energia do país e uma dependência excessiva do carvão que contribuiu para níveis recordes de poluição em Pequim e outras cidades do norte.
Mas muitos ambientalistas rejeitam a afirmação do governo de que a energia hidrelétrica é "energia verde", notando que os reservatórios criados pelas barragens engolem enormes quantidades de florestas e campos.
Enquanto líderes locais relutam em falar sobre planos de relocação, que poderão afetar até 60 mil pessoas, eles trabalharam para divulgar o projeto como um presente que vai aliviar a pobreza.
Yu Shangping, 26, um agricultor de Chala, aldeia próxima do rio Nu, é contra a ideia de que ele e seus vizinhos são pobres, dizendo que a terra e o rio suprem quase todas as suas necessidades. "Nós trabalhamos duro para construir este lugar", ele disse, "mas quando o governo quer construir uma barragem, não há nada que se possa fazer."
Colaboração de Patrick Zuo.
Tomado de folhia de san pablo br 

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