miércoles, 21 de marzo de 2018

CEM ENTIDADES DENUNCIAM BRASIL NA ONU POR MORTE DE MARIELLE


Cem entidades denunciam Brasil na ONU por morte de Marielle
Nações Unidas qualificaram situação no País como 'sombria' e deputados europeus também protestaram em Bruxelas
Jamil Chade, O Estado de S.Paulo
Vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi morta a tiros na noite de quarta-feira, 14 Foto: EFE/Mario Vasconcellos/CMRJ
GENEBRA - Mais de cem ONGs e entidades internacionais se uniram para denunciar o estado brasileiro na ONU e pediram investigações independentes sobre a morte da vereadora carioca Marielle Franco.
Numa intervenção durante o Conselho de Direitos Humanos da ONU nesta terça-feira, 20, o bloco denunciou o fato de que "muitos que falam a verdade ao poder no Brasil enfrentam violência e estigmatização sem precedentes".
O protesto ocorre no mesmo dia em que deputados europeus cobram respostas do governo brasileiro e que a ONU critica pela segunda vez em uma semana a situação de ativistas no País. 
Em Genebra, a lista das entidades que apoiam a declaração na ONU inclui Conectas, Organização Mundial contra a Tortura, Front Line Defenders, Friends of the Earth, Conselho Indígena Missionário, além de entidades africanas e latino-americanas.
"Solicitamos ao governo brasileiro assegurar uma investigação imediata, imparcial e independente, processando os responsáveis materiais e intelectuais deste crime, com a competência e a abertura para a possibilidade de o assassinato ter sido uma execução extrajudicial", declarou o grupo, em um texto lido pela estudante de mestrado brasileira Mariana Tavares.
"Também pedimos para as autoridades dar proteção efetiva aos sobreviventes desse ataque, como testemunhas-chave desta atrocidade", pedirão.
Manifestantes vãos às ruas do País após morte de Marielle e Anderson  
Segundo o grupo, o ataque ocorre "no contexto de uma intervenção federal altamente militarizada no Estado do Rio, decretada pelo presidente, contrários à vontade das comunidade locais". "De fato, as preocupações sobre a intervenção foram destacadas pelo alto comissário (da ONU) em sua declaração durante esta sessão", afirmou Mariana, numa referência às críticas feitas pela ONU há duas semanas. 
No Rio, homenagem à Marielle Franco vira ato contra intervenção
"Muitos que falam a verdade ao poder no Brasil enfrentam violência e estigmatização sem precedentes, já que o Pestá no topo das mortes dos defensores. Marielle e Anderson foram mortos a tiros no carro, retornando de uma rodada de debate com mulheres negras. Marielle foi nomeada relatora de um comitê parlamentar para supervisionar os abusos da ação militar no Rio. O programa de proteção dos defensores permanece subfinanciado e insuficiente", complementou.
 Grupos organizam protestos no Rio, em SP e em BH por morte de vereadora
Outro lado
Em resposta, o governo brasileiro afirmou que está "comprometido em investigar" o caso e levar os autores diante da Justiça. O Itamaraty indicou que o assassinato é ainda um "atentado contra a democracia e estado de direito".  "O governo federal vai dar total apoio às autoridades estaduais nas investigações sobre o crime" disse a chanceleria, que indicou que a Polícia Federal está "pronta para contribuir com as investigações". O governo ainda a qualificou como uma "voz importante e respeitada" na luta pelos direitos humanos.
Sombrio Nesta terça-feira, a ONU voltou a comentar o crime. Num e-mail ao Estado, o órgão das Nações Unidas indicou que "continua a monitorar a evolução do caso (de Marielle) e está em contato com autoridades locais e regionais, em linha com nosso mandato".
Para a ONU, porém, o caso da vereadora é sintoma de um problema mais amplo. "Infelizmente, o caso de Marielle Franco ocorre em um contexto mais amplo caracterizado por uma situação sombria para defensores de direitos humanos no Brasil", indicou a entidade.
Informes de diferentes entidades, como Anistia Internacional, apontam o Brasil como o local mais perigoso para o trabalho de ativistas.
De acordo com o escritório da ONU, a situação foi alvo de reuniões entre a entidade e o governo brasileiro. "Em vários diálogos com as autoridades nacionais e, também publicamente, temos levado nossa preocupação sobre a intimidação e violência que defensores de direitos humanos frequentemente sofrem no País, incluindo vários assassinatos", apontou a entidade, num e-mail assinado pela porta-voz, Ravina Shamdasani.
"Esperamos aumentar a colaboração com as autoridades brasileiras para lidar com esse problema de direitos humanos de forma urgente", completou.
Europeus
 Enquanto em Genebra as entidades denunciam o estado brasileiro, a morte de Marielle foi uma vez mais mencionada por deputados europeus.
Numa declaração conjunta entre os diferentes comitês do Parlamento Europeu, os deputados "condenam" o assassinato de Marielle.
"Pedimos às autoridades brasileiras e à Justiça brasileira que conduzam investigações imediatas, completas e transparentes sobre o assassinato de Marielle Franco para identificar todos os responsáveis e os levar a um tribunal independente", apelam os europeus.
"Também pedimos que as autoridades no Brasil garantam a integridade física e psicológica de defensores de direitos humanos no Brasil", completam.
O documento é assinado pelos deputados Ramón Jáuregui Atond, Fernando Ruas,Francisco Assis e Elisabetta Gardini, líderes de delegações dentro do Parlamento Europeu responsável por relações com a América Latina e sobre direitos das mulheres.
Além das três delegações do Parlamento, a Comissão de Direitos Humanos do órgão europeu emitiu um comunicado. "Marielle era a voz das pessoas mais vulneráveis, marginalizadas e estigmatizadas", disse o deputado Pier Antonio Panzeri, chefe dessa comissão. "Ela foi uma das mulheres mais valentes de sua geração e decidida que nunca teve medo de denunciar a corrupção endêmica, os abusos policiais e execuções sumárias."  
"Esse assassinato político covarde não pode ficar impune", apontou o deputado.
Na quarta-feira, os parlamentares europeus ainda se reunirão com diferentes organizações brasileiras para abordar a situação da violência e "exigir responsabilidades do governo Temer". Os representantes do partido Podemos chegaram a pedir a suspensão das negociações entre Mercosul e Europa.
"Continuamos pedindo que a Europa exija do Brasil uma investigação rápida, objetiva e transparente", afirmou Xabier Benito, vice-presidente da Delegação do Mercosul no Parlamento Europeu. "A impunidade desses crimes tem de acabar. Eles não são uma casualidade. Mas a consequência da repressão sistemática que sofrem os defensores de direitos humanos na América Latina."
Estefanía Torres, outra deputada europeia, aponta que o Brasil vive uma "situação de alarmante retrocesso democrático". Para ela, a UE não está interessada em se pronunciar. Tomado de ESTADÃO sugerido en face

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